Francisco Milanez*
É evidente o que move quem faz proselitismo pela ampliação de uma matriz energética poluente: a ganância e o pouco caso com a preservação ambiental para a atual geração e, principalmente, para as futuras. O Rio Grande tem muitas riquezas naturais, culturais e sociais. Certamente, não é uma matriz energética baseada em elementos fósseis, altamente poluidores, que nos levará ao futuro que merecemos. Países do mundo todo já apontam para a ampliação de seus parques energéticos limpos e redução do uso de carvão para reduzir as emissões de CO² e outros gases poluentes.
Talvez a maioria dos gaúchos ainda não saiba da existência de centenas de projetos que visam a tornar o nosso estado em um estado minerador, a exemplo de Minas Gerais, que há séculos degrada suas riquezas naturais e acumula uma dívida gigantesca com a União. A preciosidade mineral extraída do solo mineiro jamais ficou com a população, tampouco foi revertida em serviços públicos, pois os mesmos lobistas conseguem isenções fiscais indecorosas. À população resta o passivo ambiental e a pobreza impingida pela atividade que concentra fortunas nas contas bancárias de seus proprietários.
Não surpreendem os latidos finos, comandados contra um projeto de lei que busca preservar o Estado e a população de novas concessões de licenças ambientais para novas lavras de carvão mineral no RS, tanto em mina aberta quanto fechada. São poucos ainda os parlamentares gaúchos conscientes da avançada problemática ambiental e com coragem para propor leis que protegem a vida. Nesse sentido, o PL 337/2019, de autoria do deputado Fernando Marroni, é um exemplo que coloca a vida à frente dos interesses de acumulação de riquezas – por vezes maquiados de interesse por emprego e renda. Se assim fosse, proporiam postos de trabalho bem remunerados e sem degradação do ambiente onde as próprias famílias vivem.
Quem tenta iludir a população com falsidades sobre “novas tecnologias” serem capazes de eliminar os riscos e as emissões de gases de efeito estufa, engana a si mesmo ou comete um grande crime socioambiental, se o faz com conhecimento de causa. Defender a extração e queima do poluente e anacrônico carvão, é estar de costas para o futuro. O que precisa ser defendido é o futuro da sociedade gaúcha com qualidade de vida, e não o futuro do carvão.
*Presidente da Agapan
Artigo publicado originalmente no jornal Zero Hora, edição de 13 de maio de 2021. O texto é uma contraposição ao artigo "O Futuro do Carvão Gaúcho", divulgado no mesmo veículo no dia 7 de maio.
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